Bem-vinda, primavera

ciclovia

Setembro foi o mês de redescobrir as ruas, curtir andar a pé, sair para observar os ipês e colher amoras. Descobrimos também que alguns dos caminhos mais bonitos de São Paulo estão nas ciclovias – pelo menos nessas abençoadas pelas árvores! Tanto que a mocinha minha filha pegou o gosto de andar na bici dela por aí. Três coisas para contar.

Das amoras
Esses tempos tentaram cortar nosso barato. Estávamos descendo as escadas para seguir em direção ao metrô e paramos para comer amoras. Eis que um senhor de terno parou atrás de nós só esperando para falar comigo.
A árvore era dele, fiquei pensando? Ele estava fumando e queria me alertar para não oferecer amoras para minha filha pois o ar é muito poluído, passam carros e ônibus na rua. Eu retruquei que essa sujeira também entra pela minha janela, inclusive da cozinha, e que eu preferia isso a comprar frutas com agrotóxicos e que, além disso, ele estava contribuindo para aquela poluição fumando.
Tenho amigos saudáveis, inteligentes, queridos e crescidos que cresceram se pendurando em amoreiras nas calçadas e praças em Porto Alegre, onde também passam ônibus. Por que ele, com aquele cigarro apontado, teria que se meter na criação da minha filha? Me tirou do sério, escutou muito.
Infelizmente, quando passamos de novo nesse mesmo caminho, realmente cortaram nosso barato: podaram os galhos mais acessíveis dessa amoreira, levaram embora mesmo. Menos mal que ainda existem muitas amoreiras por aí (perto do asfalto) para manter esse delicioso sabor de infância.

A bici
Já havia contado das balance bikes, bicicletas de equilíbrio. Minha filha tem uma de madeira, que, na época dos posts, era ainda triciclo. Ela usou por muito tempo como um andador, empurrando, mal sentava. Sempre dizia pra ela dar um impulso e soltar os pés, andar mais rápido, mas nada. Não estava acreditando muito que ela fosse se aventurar a usar.
Quando parei de falar, aos 3 anos e 4 meses, ela mesma pediu para andar e começou a experimentar. Sentiu o gostinho da velocidade, aprendeu a descer (e gostar de descer) rampas. Experimentou a autonomia, como se a bici fosse o “carro” dela. Já andou até em ciclovias.
Assim, para alguns caminhos a pé pudemos abandonar o carrinho. Conseguimos ir de casa ao metrô ou ao supermercado (mais próximo) com ela “dirigindo”. Nossa ciclista pede diariamente por um passeio de bike agora.

O carrinho
Adoro os amiguinhos da minha filha. Um dia desses, um deles fez a ela uma pergunta que nenhum amigo meu ousou fazer pra mim quando eu era pequena. Por que ela não tinha levado um carrinho pra eles brincarem no parque?
Esse é desses meninos que também brincam de boneca, leva um bonequinho pra tomar banho no balde, brincadeira de criança, ora. Tem um outro menino que já se fantasiou de princesa, de príncipe, de fantasma, sim, de princesa, enquanto brincavam com panos no Sesc.
Ela até tem alguns carrinhos. Não pensei em levar para o parque porque um deles pode enferrujar e os outros dois são de madeira, também não podem ser molhados. Mas minha filha fez outra interpretação da pergunta e teve a brilhante ideia de levar carrinho de boneca ao parque. Passou uma semana inteira pedindo. Até que foi numa tarde de sexta empurrando seu carrinho. Meia hora (nos seus passinhos) sem pedir colo. Parou apenas para tomar um gole d’água ou colocar/tirar casaco.
Depois dessa experiência, estava pronta para fazer o mesmo trajeto de bicicleta! Deu certo. Foi e voltou, mas com um intervalo maior para descansar.

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